
Quando cansava de tocar, papai encostava no portal e, como fazia com as músicas, repetia algumas histórias lá de Santa Rita, "pra mó di fazê o tempo passá mais depressa". Às vezes, uma história nova fazia diminuir a torcida pela volta da luz, que devolvia às famílias a adolescente mais famosa do momento: a TV.
Uma dessas histórias era sobre um homem desempregado que, depois de arrumar um dinheirinho com o compadre, começou a imaginar um jeito de multiplicar o capital. Jogador inveterado, Totoquinha - era esse o apelido do herege - teve uma idéia dos diabos. Guardou o dinheiro no bolso e partiu pros lados da igreja. Espreita daqui, espreita dali, quando viu que o terreno estava limpo, entrou na casa de Deus e foi direto ter com São Benedito. Jogador contumaz, Totoquinha conhecia bem as regras do carteado. Do Truco, então, nem se fala! Depois de se certificar de que não havia ninguém por perto, o danado enfia a mão no bolso e "casa" o empréstimo com os donativos depositados aos pés da imagem. Coloca as cartas pra ele e pro santo, dá uma "chorada" e dobra a aposta. "Truco São Benedito"! Como era de se esperar, o Santo não responde. E aí, Totoquinha arrecada as apostas e sai com a alma lavada e o bolso recheado.
Lembrando dessa história, imagino se o Santo teria sido tão paciente, se tivesse que aturar sete espertalhões a lhe surrupiar os donativos durante dez anos. Acho que o bando queria mesmo era enrolar Nosso Senhor do Bonfim, quem sabe numa mesa de Buraco de Oito. Eles não sabiam, nem eu, que Nosso Senhor do Bonfim não é São Benedito. Azar deles!
Yone de Carvalho Abelaira
http://www.yoneabelaira.multiply.com/
Obrigado a amiga Yone, vai ser a homenagem ao
Dia do Contador de História
Um comentário:
Prezado Veloso, estou muitíssimo agradecida a você por dar visibilidade ao meu texto.
Como grande contador de "causos" que você é, está de parabéns pelas jóias que você cria para enriquecer o seu baú. Fiquei muito orgulhosa de ocupar um pedacinho desse espaço tão interessante e democrático.
Um grande abraço, Yone.
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